CORONAVÍRUS: BRASILEIROS EM WUHAN QUEREM SAIR DA CHINA E PEDEM AJUDA AO ITAMARATY

Grupo com 31 pessoas quer voltar ao Brasil; Itamaraty informou a ÉPOCA que eles terão de cumprir quarentena determinada por governo chinês

Indira Mara Santos está entre os brasileiros que moram em Wuhan Foto: Reprodução

Um grupo de brasileiros que vive em Wuhan — cidade onde se iniciou a propagação do coronavírus — pediu ajuda ao Itamaraty para que possa sair da China.

Na última sexta-feira (25), a economista Indira Mara Santos, de 34 anos, encaminhou uma lista com os contatos de 31 brasileiros que moram em Wuhan — onde atualmente vigora uma quarentena que impede a população de deixar a cidade.

Estudante de doutorado da Universidade de Huazhong, Indira vive há um ano e meio em Wuhan e foi destacada para representar o grupo na conversa com a Embaixada do Brasil em Pequim, na China.

Estudo identifica caso de paciente infectado sem sintomas do coronavírus Foto: Agência Xinhua
Estudo identifica caso de paciente infectado sem sintomas do coronavírus Foto: Agência Xinhua

“Chegaram a cogitar a possibilidade de sair de Wuhan e seguir para outra cidade da China. Nós não aceitamos esta opção. Queremos sair do país e, se possível, voltar para o Brasil”, disse a economista. “A situação está se agravando aqui. Estamos todos muito preocupados com a propagação desse vírus. Nossas famílias estão preocupadas aí no Brasil. Queremos voltar para casa!”

Procurado por ÉPOCA, o Itamaraty informou na tarde desta segunda-feira (27) que os brasileiros em Wuhan terão de cumprir a quarentena determinada pelas autoridades chinesas: “O governo chinês tem mantido comunicação constante com os representantes diplomáticos e consulares e, até o momento, não considera organizar a retirada de estrangeiros das áreas já em situação de isolamento”. 

O Itamaraty acrescentou ainda que “qualquer evacuação demandará, além da autorização chinesa, cumprimento das normas internacionais sobre quarentena e permissão de sobrevoo e pouso de avião com pessoas provenientes de área que experimenta surto da doença”.

A diplomata Helena Meireles Gonçalves Eloy, segunda sSecretária com posto na Embaixada do Brasil em Pequim, tem conduzido as conversas com a comunidade brasileira em Wuhan.

 
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Segundo relato de Indira Santos, em conversa por telefone, Helena Eloy afirmou que haveria uma reunião nesta segunda-feira (27) da representação diplomática do Brasil com o governo da China para discutir a situação dos brasileiros.

De acordo com Indira Santos, a representante da Embaixada não chegou a dizer que o governo descarta resgatar os 31 brasileiros de Wuhan.

“Ainda não tivemos um retorno da embaixada objetivo sobre a possibilidade de sair daqui. A Embaixada dos Estados Unidos já se mobilizou para retirar seus cidadãos de Wuhan. Por que o nosso governo não pode fazer o mesmo?”

De acordo com reportagem do  The Wall Street Journal, publicada neste domingo (26), o Departamento de Estado dos EUA informou que está organizando um voo para retirar cidadãos americanos e diplomatas da cidade de Wuhan. O voo está programado para deixar a China nesta terça-feira (28) com destino a São Francisco, na Califórnia, segundo o jornal.

A comunidade brasileira em Wuhan

Indira diz que o grupo de 31 pessoas é formado em sua maioria por brasileiros que estudam em universidades de Wuhan. Há ainda profissionais que trabalham na China, entre eles, alguns com suas famílias. Cinco crianças com menos de onze anos e um adolescente de 15 anos estão na lista de Wuhan.

“A comunidade brasileira em Wuhan vai além do número apontado na nossa lista. Mas, como este é o período de férias, muitos viajaram para fora do país”, explica Indira.

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Desde o início da quarentena, na última quinta-feira (23), Indira tem permanecido em seu quarto no alojamento dentro do campus da Universidade de Huazhong.

Como boa parte da população de Wuhan está reclusa em suas casas, a comunicação entre os brasileiros é realizada pelo aplicativo We Chat – concorrente do Whatsapp que ganhou o mercado chinês. É por lá que eles trocam informações sobre as mudanças constantes na rotina na cidade.  

“O governo chinês agora determinou que os carros não podem mais circular por Wuhan. Os supermercados ainda estão abertos e ainda existem produtos nas prateleiras. Mas ainda não sabemos até quando isso vai durar, até quando a cidade vai ficar fechada. Isso causa uma ansiedade muito grande em todos nós”, disse Indira.